Atravessar o Maciço do Bocaina em 4 dias na Bicicleta
Relato pessoal sobre participar do La Bocainita em maio/junho de 2024 em 4 dias junto com o bando, saindo de Rio de Janeiro e chegando em Paraty
Relato cronológico do La Bocainita
Dia 1
Dia 2
Dia 3
Dia 4
O dia começou cedo. Acordamos às 04:00 para sair pontualmente às 05:00. O café da manhã para mim foi o gelzinho do Mombora, o do Mocha. Ótima pedida. Todos partiram juntos, exceto pelo Janssen, que estava determinado a seguir no modo cicloturista de verdade. O La Bocainita até tentou ser cicloturista, mas o efeito manada escambou num brevê randonné com paradas para fotos, dormidas e esperadas.
Estava tudo escuro. O sol ainda estava distante do horizonte e a umidade ainda estava no solo, o que resultou num céu estrelado muito visível durante os primeiros 15 minutos de pedal. Até que as primeiras luzes bateram no horizonte. Com a coincidência da rota seguir o Rio Paraitinga e seus afluentes, resultou-se de repentinamente estarmos no interior de oceanos de névoa, a rasante dos mares de morros dos Campos de Cunha. Em certos momentos, havia a vista magnífica de nuvens embaixo de nossos pés, cercadas e restritas pelos morros. Em outros momentos, a perspectiva era de apocalipse zumbi. Um pelotão de ciclistas cansados por 4 dias empurrava morros de inclinações raras.
Todo esse esplendor acabou com um capote. Ao descer muito rápido, de surpresa aparece uma sequência de três valetas com quase 1 metro de profundidade cada e cerca de 30cm de comprimento, os quais estavam localizados numa curva de 75 graus e com raio de cerca de 10m, inclinadas lateralmente em cerca de 30 graus. Demais para as minhas rodas de 60cm de diâmetro numa velocidade de 30km/h para rolar por cima, e demais para o reflexo e tração desviarem.
Fui arremessado e paralisado no chão por 5 segundos. Gustavo, Renato, Felipe, Pedrinho e Leonardo lá acompanharam por todo o momento. Betão também. Injúrias corporais incluíram pancadão na coxa direita, pancadinha no ombro direito, e ralado na mão esquerda. Injúrias mecânicas foram da roda e pneu dianteiros entortados, câmbio dianteiro sem passar e guidão torto. Este último foi resolvido na força bruta. O câmbio dianteiro foi resolvido em Cunha repuxando o cabo, pois ele estava solto. Já a roda e o pneu foram um desafio: o pneu pegava no garfo, impossível de andar sem resolver. Parcialmente resolvido no começo através de tensionar os aros por Gustavo e mim. Completamente resolvido em Cunha ao torcionar o pneu enquanto murcho.
O trecho seguinte foi ensolarado, pela Estrada Real até Cunha. Para ser sincero, fiquei azedo neste trecho e pouco fiquei observando. Apenas voltei para a emoção após parar em Cunha, se entupir de espresso, tubaína e pão de queijo, mas principalmente resolver definitivamente a bicicleta. Agora, ela estava ainda melhor do que quando começou o La Bocainita. Mais alinhado e mais regulado. Durante a estadia nesta parada de Cunha, diálogos interessantes se desenrolaram.
Um grande dilema se instalava sobre o Pedrinho: descer ou não descer a serra? O seu pneu de 32 milímetros havia sido rasgado na banda lateral com um corte de 5 centímetros, o qual foi isolado por uma fita isolante. Cunha não tinha ônibus para Paraty. E descer a serra Cunha-Paraty é o que é. No final, ele desceu, prudente e alimentado de todas as informações relevantes que poderíamos fornecer. Às 11h da manhã, parte-se novamente um micro pelotão formado por mim, Gustavo, Renato e Felipe. Betão e Leonardo haviam saído antes para ter certeza de que estariam em Paraty junto conosco.
O trecho final trata-se do começo da Estrada Real, feita de bloquetes e estradas de terra. No meio, há cachoeiras magníficas como a do Desterro, na qual fizemos uma pequena parada e que estava vazia de visitantes. Os mais sábios entre nós aproveitamos a parada para tomar um banho naturista enquanto outros de nós ficamos observando a paisagem e os sons. No caminho, há a Pedra da Macela, uma das cerejas do bolo do La Bocainita. O qual pulamos. Chegamos à sua entrada lá pelas 16:00, e as nossas estimativas diziam que chegaríamos exatamente ou mesmo após o pôr do sol. Optamos por pular, pois ir nela implicaria descer a perígosissima serra no escuro.
A descida foi incrivelmente calma. Subi aqui uma vez em 2021, no contexto de treinar para aquela tentativa dos 28 dias, e lembro de ter sido chocado pelo quão traiçoeira era. Continua traiçoeira: inclinações súbitas de 20%+, vias simples em determinados momentos, bloquetes afundados em partes moles, o que incita a mudança súbita de direção, e carros rápidos que invadem a outra faixa inteiramente. Mas aparentemente alguma manutenção foi feita entre lá e aqui.
Chegamos então a Paraty. Felipe e Renato são a companhia. Já o Gustavo se empenhou para subir a Macela. Uma pequena epopeia é feita para assegurar uma embalagem apropriada para levar a bicicleta no ônibus, no caso, uma mala bike artesanal feita por mim mesmo e constituída de sacos de lixo e fita isolante. Feito isso, para a pizzaria vamos para comemorar. Que viagem!@