Atravessar o Maciço do Bocaina em 4 dias na Bicicleta

Danilo Lessa Bernardineli
6 min readJun 5, 2024

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Relato pessoal sobre participar do La Bocainita em maio/junho de 2024 em 4 dias junto com o bando, saindo de Rio de Janeiro e chegando em Paraty

Relato cronológico do La Bocainita

Dia 1

Dia 2

Dia 3

Subindo o Alto da Boa Vista

Dia 4

O dia começou cedo. Acordamos às 04:00 para sair pontualmente às 05:00. O café da manhã para mim foi o gelzinho do Mombora, o do Mocha. Ótima pedida. Todos partiram juntos, exceto pelo Janssen, que estava determinado a seguir no modo cicloturista de verdade. O La Bocainita até tentou ser cicloturista, mas o efeito manada escambou num brevê randonné com paradas para fotos, dormidas e esperadas.

Saindo da pousada

Estava tudo escuro. O sol ainda estava distante do horizonte e a umidade ainda estava no solo, o que resultou num céu estrelado muito visível durante os primeiros 15 minutos de pedal. Até que as primeiras luzes bateram no horizonte. Com a coincidência da rota seguir o Rio Paraitinga e seus afluentes, resultou-se de repentinamente estarmos no interior de oceanos de névoa, a rasante dos mares de morros dos Campos de Cunha. Em certos momentos, havia a vista magnífica de nuvens embaixo de nossos pés, cercadas e restritas pelos morros. Em outros momentos, a perspectiva era de apocalipse zumbi. Um pelotão de ciclistas cansados por 4 dias empurrava morros de inclinações raras.

Perspectivas de um começo de manhã nos campos de Cunha

Todo esse esplendor acabou com um capote. Ao descer muito rápido, de surpresa aparece uma sequência de três valetas com quase 1 metro de profundidade cada e cerca de 30cm de comprimento, os quais estavam localizados numa curva de 75 graus e com raio de cerca de 10m, inclinadas lateralmente em cerca de 30 graus. Demais para as minhas rodas de 60cm de diâmetro numa velocidade de 30km/h para rolar por cima, e demais para o reflexo e tração desviarem.

Fui arremessado e paralisado no chão por 5 segundos. Gustavo, Renato, Felipe, Pedrinho e Leonardo lá acompanharam por todo o momento. Betão também. Injúrias corporais incluíram pancadão na coxa direita, pancadinha no ombro direito, e ralado na mão esquerda. Injúrias mecânicas foram da roda e pneu dianteiros entortados, câmbio dianteiro sem passar e guidão torto. Este último foi resolvido na força bruta. O câmbio dianteiro foi resolvido em Cunha repuxando o cabo, pois ele estava solto. Já a roda e o pneu foram um desafio: o pneu pegava no garfo, impossível de andar sem resolver. Parcialmente resolvido no começo através de tensionar os aros por Gustavo e mim. Completamente resolvido em Cunha ao torcionar o pneu enquanto murcho.

O trecho seguinte foi ensolarado, pela Estrada Real até Cunha. Para ser sincero, fiquei azedo neste trecho e pouco fiquei observando. Apenas voltei para a emoção após parar em Cunha, se entupir de espresso, tubaína e pão de queijo, mas principalmente resolver definitivamente a bicicleta. Agora, ela estava ainda melhor do que quando começou o La Bocainita. Mais alinhado e mais regulado. Durante a estadia nesta parada de Cunha, diálogos interessantes se desenrolaram.

Um grande dilema se instalava sobre o Pedrinho: descer ou não descer a serra? O seu pneu de 32 milímetros havia sido rasgado na banda lateral com um corte de 5 centímetros, o qual foi isolado por uma fita isolante. Cunha não tinha ônibus para Paraty. E descer a serra Cunha-Paraty é o que é. No final, ele desceu, prudente e alimentado de todas as informações relevantes que poderíamos fornecer. Às 11h da manhã, parte-se novamente um micro pelotão formado por mim, Gustavo, Renato e Felipe. Betão e Leonardo haviam saído antes para ter certeza de que estariam em Paraty junto conosco.

O trecho final trata-se do começo da Estrada Real, feita de bloquetes e estradas de terra. No meio, há cachoeiras magníficas como a do Desterro, na qual fizemos uma pequena parada e que estava vazia de visitantes. Os mais sábios entre nós aproveitamos a parada para tomar um banho naturista enquanto outros de nós ficamos observando a paisagem e os sons. No caminho, há a Pedra da Macela, uma das cerejas do bolo do La Bocainita. O qual pulamos. Chegamos à sua entrada lá pelas 16:00, e as nossas estimativas diziam que chegaríamos exatamente ou mesmo após o pôr do sol. Optamos por pular, pois ir nela implicaria descer a perígosissima serra no escuro.

Perspectivas da Estrada Real em Cunha

A descida foi incrivelmente calma. Subi aqui uma vez em 2021, no contexto de treinar para aquela tentativa dos 28 dias, e lembro de ter sido chocado pelo quão traiçoeira era. Continua traiçoeira: inclinações súbitas de 20%+, vias simples em determinados momentos, bloquetes afundados em partes moles, o que incita a mudança súbita de direção, e carros rápidos que invadem a outra faixa inteiramente. Mas aparentemente alguma manutenção foi feita entre lá e aqui.

Chegamos então a Paraty. Felipe e Renato são a companhia. Já o Gustavo se empenhou para subir a Macela. Uma pequena epopeia é feita para assegurar uma embalagem apropriada para levar a bicicleta no ônibus, no caso, uma mala bike artesanal feita por mim mesmo e constituída de sacos de lixo e fita isolante. Feito isso, para a pizzaria vamos para comemorar. Que viagem!@

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