Os poluentes que respiramos todos os dias, onde vivem, e como conviver

Danilo Lessa Bernardineli
8 min readJun 9, 2020

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O Ar. Elemento mais universal do planeta, e que todos respiram. Dos mais ricos aos mais pobres, e dos moradores da cidade para os trabalhadores da agricultura. Todos nós estamos expostos ao ar, e sem ele não vivemos nem mesmo cinco minutos.

A cada minuto, cerca de 8 litros de ar entram, atravessam e saem de nossos pulmões. O suficiente pra preencher um apartamento inteiro. Em menos de um ano, você já respirou literalmente o seu bairro inteiro, tamanho é a nossa necessidade de processar oxigênio, que é o elemento fisiológico essencial para gerar energia em nossa vida através do processamento de ATP: de poder trabalhar para até mesmo pedalar 200 quilômetro em um dia.

O ar, limpido e transparente como uma água mineral que brota das fontes naturais, é gratuito para todos consumirem sem nenhum perigo a saúde. Ou era. Com a revolução industrial, foram introduzidos novos elementos antes inexistentes nessa substância essencial da vida.

Alguns deles agora estão presentes em uma quantidade tão alta, que ameaça até mesmo a alterar os cursos dos rios, das chuvas e das estações, algo que antes somente os vulcões e meteoros poderiam realizar. Esse é o caso do gás carbônico e do metano, e a sua emissão em larga-escala no último século até mesmo fez se criar uma nova era geológica: o antropoceno, no qual a força humana é tão poderosa e imponente quanto as antigas forças que causavam extinções em massa e alterações climáticas.

Essa imponência atmosférica não se restringe com só com o meio ambiente, mas também tem seus efeitos na sua saúde e na sua performance direta. Junto com o dioxido, veio também o nitroso, o ozônio, o monóxido e o particulado, os quais se difundem junto com os litros de respiração diários, e se acomodam nos alvéolos delicados dos pulmões até serem bombeados para seus receptores nos músculos e no coração.

A poluição do ar é talvez o maior problema urbano na existência. Ela é invisível aos olhos, mas opera constantemente sobre o seu estresse fisiológico do dia a dia. Sabe aquele dia em que você acorda e tudo parece que vai dar errado? E sabe os dias que parecem onde tudo vai dar certo? Tente anotar como estava o horizonte no dia. Os poluentes atmosféricos são muito conhecidos por diminuir sua capacidade respiratória, por aumentar a mortalidade do dia a dia, e em deixar as pessoas mais irritadas e desconcentradas. Sem falar que o dia fica feio e triste.

Neste episódio, você vai descobrir qual é o cardápio dos principais poluentes que fazem sua expectativa de vida cair no dia a dia, bem como saber a identificar eles, tanto no visual quanto na origem.

O primeiro, e talvez o mais fácil de observar a olho nu, é o particulado grosso. Ele nada mais é do que poeira essencialmente. Particulado grosso as vezes é simplesmente fumaça, ou aquela poeira que levanta quando você balança o tapete. Muitas vezes ela causa alergias e irritação respiratória, e ela costuma surgir das fábricas e dos escapes dos caminhões.

O segundo poluente na lista são os óxidos nítricos, no qual o seu representante mais famoso é o NO2: dióxido de nitrogênio. Esse é um poluente que vem principalmente dos carros na rua, e pode causar emergências médicas devido a ele causar dificuldade em respirar. Sem falar que ele também reage com outros gases na atmosfera para gerar particulado e ozônio, amplificando o efeito na saúde.

Esses óxidos são famosos por causarem uma série de coisas que é possível enxergarmos no dia a dia, como a Chuva Ácida. Chuva ácida é um problema pois ela se espalha por todo a região, afetando principalmente os lugares que não tinham nada a ver com a emissão dos poluentes. Os ácidos são prejudicais para os peixes e vida marinha, prejudicando muito a indústria da pesca e os ecossistemas, e são prejudiciais para as plantas, pois empobrecem os solos e causam prejuízos enormes para a agricultura e as reservas biológicas. Por último, chuvas ácidas danificam e fazem corroer monumentos históricos como estátuas e ruínas milenares, o que é um risco enorme para o nosso legado histórico.

A Chuva Ácida porém não é causada só pelos óxidos nítricos. Ela tem o seu parceiro de crime: que são os óxidos sulfatos. São os mesmos vapores exalados pelos tóxicos gases vulcânicos, com a diferença de que liberamos alguns milhões de vezes a mais, e na porta da sua casa através dos caminhões e chaminés. Ao depender do dia, o enxofre cria uma neblina de poluição. Uma erupção vulcânica humana só que sem a lava de fogo.

Depois dos óxidos, temos o quarto poluente, que vem a ser uma ironia das coisas. O ozônio é ele. O mesmo ozônio que esvaziamos das camadas da atmosfera ao ponto de formar um buraco enorme, o temos em excesso em nossas cidades e praças. Em algumas medidas, ele é uma versão piorada do óxido nítrico, e ele costuma ser encontrado em maior quantidade nas praças e corredores de árvores das cidades.

O ozônio escancara algumas contradições, pois ele é indiretamente gerado em boa parte devido a presença das árvores, que ficam super-saturadas de tanta óxido nítrico que tiveram de filtrar. Isso, junto ao sol intenso, acaba por gera a emissão de ozônio em excesso, deixando os olhos lacrimejando, os rostos vermelhos, e os corpos estressados. Uma possível solução para não ter de diminuir o fluxo de veículos é cortar as árvores próximas a corredores intensos de trânsito. O que você acha dessa ideia?

Finalmente, vamos ao último e principal vilão da lista. Particulado fino. Uma poeira tão fina que ultrapassa todos os filtros de seu corpo, e entra diretamente em sua corrente sanguinea e seu coração. O particulado fino, ou PM25, é o principal causador dos dias feios, e ele é até mesmo associado a mutações genéticas através dos mecanismos epigenéticos.

Ele é o principal vilão pois ele está presente em boa parte de nossas atividades da cidade. Construções de prédio emitem ele de sobra, queimar carvão emite, e andar de carro emite. Além disso, ele não é volátil, e nem mesmo fácil de eliminar ou mitigar. Ele é duro de se livrar, e o vento carrega ele para lugares distantes que nada tem a ver com a emissão.

Particulado fino é o poluente que faz a China ser tão poluída. Aquelas cenas de televisão das cidades repletas de neblinas e pessoas com máscara é devido ao PM25. Os programas de TV que informam a previsão de poluentes para o dia são tão populares quanto notícias de futebol lá.

Inclusive, é pouco conhecido, mas você também pode se informar sobre a previsão de poluentes aqui no Brasil. Existem centenas de estações de qualidade de ar informando se é uma boa ideia você andar na rua ou não. Um lugar que você pode olhar é o AQICN.org, no qual você pode visualizar a medição em tempo real de particulado, ozônio, enxofre e óxido nítrico em qualquer lugar do mundo.

Outra opção para saber a qualidade do ar é aderir a moda chinesa e ter seu próprio medidor de poluentes. Eles vem em todos os formatos, desde cubos pequenos com bateria que você pode carregar com você o tempo todo, para até estações complexas que medem os poluentes junto com informações metereológicas. Geralmente, eles vão usar um laser em uma cor especial para advinhar o tanto de particulado que você respira.

Ainda mais sofisticados são os purificadores, muitos dos quais possuem tecnologia hospitalar de UTI para garantir que você possa respirar em seu escritório em paz e sem ter crises respiratórias — praticamente poder respirar o ar do campo sem sair da cidade. A purificação pode usar vários métodos: desde de ionizar o seu ar para até usar tecidos com furos microscópicos. E todos eles só funcionam dentro de um quarto fechado e são caros.

O problema é quando você não tem um purificador e nem está em um quarto fechado. O que fazer quando se está na rua ou no escritório? O problema da poluição de ar é que veja, todos respiram ele e não tem como segurar ou controlar o ar. A verdade é que não dá para fazer muita coisa exceto ficar longe de carros, fábricas, e torcer para a previsão do ar ser boa. é a típica tragédia dos comuns, onde a emissão por parte dos poucos fazem com que as pessoas que não tem nada a ver tenham sua expectativa de vida reduzida, e o seu estresse nas alturas.

A poluição do ar é uma tragédia igualitária e sem preconceitos com aqueles que estão expostas a ela. Emissão de particulado fino em um bairro industrial é carregado facilmente para bairros residênciais abastados e arborizados, e apesar das árvores ajudarem a diminuir o excesso, eventualmente se há a saturação com a fatura paga em ozônio nos pulmões. Não há escapatória senão o controle direto sobre quem emite a poluição atmosférica: construções civis, carros, veículos pesados e indústrias.

E a maior tragédia, é que ela é invisivel e muitas vezes sem cheiro. É um estressor que te corroi internamente e constantamente, sem pausas e descanso, e enquanto você está acordado e dormindo. No final das contas, a população da cidade simplesmente se acostuma e naturaliza com a ideia de estar estressado, sem saber, ver e cheirar o porque, apenas sentindo uma morte interna.

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Danilo Lessa Bernardineli
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