Relato: 300km misto em Guararema pelo RMC

Danilo Lessa Bernardineli
8 min readJan 13, 2023

--

O Pré, Durante e Pós para um brevê cheio de terra nos Mares de Morros do Alto Paraíba.

Foto Provisória retirada da viagem de Subir o Ribeira. A bike e os morros vão ser isso aí.

Pré

Essa seção é sobre tudo que veio antes. Talvez pareça massante, mas é o que é feito e muitas vezes não se é descrito em escrito. É mais simples e ágil do que parece quando se há o hábito e se sabe o que faz. Na verdade é mais demorado descrever aqui as coisas do que de fato fazer as coisas.

Rota

O primeiro passo para todo evento mais longo que faço é ter certeza que tenho uma rota em mãos que esteja revisada e adequada para a minha estratégia típica.

Resumo da rota

No caso de brevês do RMC, são fornecidos um resumo e uma rota utilíssimas, o que faz minimizar o tempo nesta etapa mas não é substituto da revisão e adequação. Conhecer a geografia por onde vai se passar é pré-requisito para tudo na vida.

Copio e modifico a rota, com as seguintes adições em relação ao original: Todos os POIs e Inícios / Fim de Terra foram adicionados ao Cuesheet manualmente. Toda a rota foi revisada por satélite e comparado com o resumo para garantir que o tipo de terreno está correto (original: 38% terra, modificado: 42% terra)

Topografia

Um passo opcional que faço é renderizar mapas da região. Isso é um hobby para saber mais por onde se vai passar. Testar combinações e camadas e ver o que sai de bonito ou interessante.

Esquerda: mapa topográfico comum. Direita: um experimento

O que dá para se extrair de informação é de que Guararema até Redenção da Serra será na formação típica do Vale do Paraibuna (apesar de nominalmente ser a porção alta do Vale do Paraíba, nomenclaturas a parte irei usar Paraibuna), que consiste num misto de morros curtos com eventuais subidas e descidas com eventuais incursões para longe do rio (geralmente envolvendo subidas e descidas mais longas)

De Redenção até o km 172 — Bar do Amarelinho (km 172), o segmento está no meio entre os mares de morros cristalinos, com uma exceção na primeira metade do trecho de São Luiz de Paraitinga e Lagoinha, que consiste parcialmente no Vale do Paraitinga e com características menos onduladas comparados ao Vale do Paraíbuna. Ao chegar em Lagoinha, estaremos no Planalto Cristalino em toda sua glória. Acredito que talvez haja lembranças de Cunha no final deste trecho.

De Sete Placas até chegar na Rodovia Governador Carvalho Pinto se passará rente ao Rio Una, que forma um vale com características similares ao do Paraíbuna, e após tal, a rota continua pelo Vale do Paraíba, que é levemente rolado. Na verdade ele pode ser tido como "plano" para direções que ortogonais ao Rio Paraíba, mas a presença dos afluentes criam divisores de águas que criam leves colinas dispostas ortogonalmente, o que faz o trajeto paralelo ao rio ser ondulado.

Meteorologia

As boas: o vento provavelmente irá ajudar na segunda metade, que é majoritariamente asfalto rolado e irá fazer amplificar ainda mais o efeito na velocidade do segmento. Chuvas provavelmente ocorrerão no final ou após os segmentos da chuva.

As más: Possibilidade real de chuvas fortes durante a tarde. Norte-americanos que haverá uma chuva forte entre 14h e 21h. Já os Europeus (que costumam acertar mais), dizem que haverá uma chuva fraca entre 15h e 18h. Há uma grande incerteza em ambos.

Conclusões: Estratégia agressiva para o período entre 7h e 14h. Olhar amanhã cedo denovo a previsão. Levar roupa para chuva e frio. Levar sapata reserva de freio.

Esquerda: Previsões pelo aplicativo Epic Ride Weather para uma velocidade média de 15km/h. Direita: previsão de chuva multi-modelo (cima pra baixo: GFS / ECMWF / ICON / METEOBLUE) em Lagoinha para Sábado. Feitos em 13 Jan 08:00.

Inferências

Com as informações de terreno e meteorológicas consolidadas, o próximo passo é fazer Previsões sobre quanto tempo vai se levar em cada trecho. Estima-se na mediana um tempo de movimento em 16h00 e tempo total em 17h45. O corte é até 20h00 no tempo total.

Parece confortável mas não o é. Há uma previsão pessimista em 18h30 de tempo de movimento e 21h45 de tempo total, o que estoura significativamente o corte do brevê. Já a otimista, que representa o melhor impraticável que se dá para ter, afirma um tempo de movimento em 14h00 e tempo total em 14h40.

Previsões sobre quanto tempo leva entre cada PC, dividido em três cenários: Pessimista, Mediano e Otimista. (link)

Na prática, as previsões afirmam que o brevê será um desafio real: há sim a probabilidade de não finalizar e ela não é desprezível. Apesar dos números medianos serem uma previsão honesta do que se é possível fazer em condições normais, há muita coisa que pode gerar anormalidades, e historicamente todos os brevês que fiz com o RMC foram em condições anormais: tive COVID-19 na véspera dos últimos dois brevês e isso interferiu nas métricas de desempenhando e recuperação de inéquivoca, tornando um misto de previsão Pessimista e Mediana como sendo o que aconteceu de fato. Sem contar as coisas inesperadas que não dá para prever que sempre acontecem.

Sobre como esses números foram gerados, isto merece um escrito a parte. Houve uma curva de aprendizado longa aqui. O que posso resumir é que eles funcionam muito bem a ponto de ser quase inconveniente as vezes. O modelo final é o mais complexo possível para retratar em boa parte os fatores por trás dos tempos finais, e o mais simples possível para permitir um entendimento transparente sobre quais são as causas de fato dos tempos e uma praticidade no uso cotidiano. Ele não é uma caixa preta, bem pelo contrário. Os números e fórmulas lá não tem nada de mágico, foram tudo validados em outras instâncias e em outros tempos.

Para este brevê em específico, e contrastando-se com o anterior, fiz a suposição de que há um incremento (grande no pessimista e médio no otimista) no atrito de rolagem de terra entre no segmento que consiste entre os PCs Paraibuna e Placa Sete Voltas. É uma forma educada de falar que vai pegar lama ou precise empurrar no plano. Fiz também uma hípotese que o arrasto aerodinâmico irá cair após a Placa Sete Voltas, devido a rodovia. Os números colocados foram grosseiramente inspirados em informação conhecida prévia acerca de lama e efeito de rodovia no arrasto.

Estratégia para o brevê

Começo até São Luis de Paraitinga

O trajeto deve ser absolutamente otimizado até São Luís de Paraitinga. Cerca de 3/4 da terra do rota está localizado até lá, e qualquer chuva irá aumentar significativamente a dificuldade. Estima-se que a chegada lá será às 15h00 (otimista: 14h00, pessimista: 17h30), que será bem no começo do intervalo de possíveis chuvas.

Ao chegar lá, deve-se avaliar a situação das chuvas em tempo real e pelo céu, o que ditará a estratégia no próximo segmento.

Por absolutamente otimizado, entende-se: minimizar paradas ao máximo e usar uma tática de intensidade moderado-agressivo em subidas, especialmente as longas.

São Luis de Paraitinga até Lagoinha

A tática será condicional a situação das chuvas e do tempo do dia.

Se a situação for de tempo limpo pelas próximas 2h mas houver risco de chuva ao chegar em SLP, deve-se continuar a tática absolutamente otimizada.

Se estiver chovendo ou em vias de chover, pegar um lanche rápido e continuar normalmente, sem necessidade de ser absolutamente otimizado.

Cruzeiro se não houver perspectiva de chuva.

Lagoinha à Sete Placas

Absolutamente otimizado se estiver seco e cruzeiro se estiver molhado.

Pegar um lanche em Lagoinha estiver chovendo e a perspectiva for acabar em menos do que 30min.

Cruzeiro se não houver perspectiva de chuva.

Sete Placas até o Final

Só cruzeiro o tempo todo.

Coisas à levar

Coisas são indicas por item, modelo (se aplicável) e marca. Tá incompleto, depois atualizo.

Bicicleta: Trek Singletrack 930 1993. Adaptada para usar manetes e guidão de estrada. V-brake com adaptadores. Pneus sem câmara instalados nas rodas originais de 1993. Coroas 42, 34, 24 na dianteira e cassete 7v 12–34.

Luzes: 2 Faróis Dianteiros Knog Blinder 600. 1 Farol Traseiro Knog Blinder 100. 1 Par de Piscas da Decathlon do melhorzinho.

Vestimenta: Camisa, Las Magrelas; Segunda Pele, Mauro Ribeiro; Suspensório, Endurance, La Maglia; Suspensório, Endurance, La Maglia; Corta Vento sem Manga; La Maglia; Luva, Dual Gel, Specialized; Capacete.

Ir e voltar de casa até o Ponto de Partida

Ida

É bom estar no ponto de partida no máximo até as 06:40. Há duas formas de chegar lá: Táxi e Trem + Bicicleta. Há também a escolha entre ir antes ou ir no dia.

Para ir via Táxi estima-se um custo de R$200 para ir de Táxi e cerca de 1h45min de deslocamento. (1h30min de deslocar e 15min de esperar e montar / desmontar). Teria que sair de casa às 04:45

Para ir via Trem + Bicicleta há um custo de R$4.40, e estima-se um tempo de deslocamento em 2h50min (70 minutos de trem, 10 minutos de espera, 70 minutos pedalando da Estação Estudantes até Salesópolis, e 20 minutos pedalando até a Estação da Luz). Bônus: o corpo e bicicleta são testados antes. Contra: adiciona-se 30km para o dia. Há também uma condição: os trens operam da 04:00 até a meia-noite. Para isso funcionar, teria que pegar o primeiro trem das 04:00 ou o segundo trem entre 04:10 e 04:20. Teria que sair de casa às 03:40.

Outra alternativa: simplesmente ficar hospedado em Guararema e ir de Trem + Bicicleta. Fica especialmente vantajoso se for em 2 ou 3 pessoas, pois os quartos via de regra estão em 320 / 380 reais. Diluindo, fica mais barato do que ir de Táxi.

Decisão Final: o meu colega Randonné, o João Pedro Molan, que também irá fazer o 300 misto, decidiu dar uma uma hospedagem e uma carona junto com sua família. Facilitou muito a logística! Obrigado Molan!

Volta

Se chegar perto do horário limite (03:00), simplesmente pedalar até Mogi das Cruzes e pegar o trem. Mesma coisa caso chegue antes das 22:30, que é improvável.

Caso contrário, vai ter de ser o Táxi.

Durante

Será atualizado após o brevê!

Pós

Será atualizado após o brevê!

Agradecimentos

Será atualizado após o brevê!

--

--