Subir Ribeira: Pedalar o Miolo do Vale do Ribeira em 5 dias

Danilo Lessa Bernardineli
22 min readJan 4, 2023

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Mapa Topográfico do Alto Ribeira com a rota original

Conhecer o Vale do Ribeira com profundidade é um desejo tradicional de todo aspirante a naturalista que já passou por perto. Estou em São Paulo desde 2014 e meu currículo ribeirista se resume até então à: Visitar a Caverna do Diabo; dormir ilegalmente de rede no Mirante do Governador; Sair Pedalando de São Paulo até Cananéia via Ilha Comprida; tentar frustradamente atravessar a trilha do Telégrafo; Pedalar a Régis até Curitiba; Tomar um fora de um romance sediado em Eldorado.

A lista já é algo, mas está praticamente restrita para a Planície Litorânea do Vale, deixando de lado o Baixo Vale (também conhecido como Alto Ribeira em São Paulo) e o Alto Vale (também conhecido como Vale do Ribeira no Paraná)

Taxonomia para a região (link)

Determinado a resolver de forma geral a questão, tracei junto com a Viola uma rota para entrar na realidade dos rincões do Ribeira. O fundamento principal é de que devemos pedalar o mais próximo possível do Rio Ribeira de Iguapé, independente das condições de terreno, de ocupação humana ou climáticas. O segundo fundamento é que em caso de bifurcação dos rios, o caminho deve passar o mais próximo possível do centróide da formação característica do Vale.

Em muitos trechos, a rota é bem conhecida por viajantes, tais como Eldorado à Iporanga. Em outros, mal há marcações nos mapas públicos e nos mapas de calor de ciclistas, tal como Ribeira à Cerro Azul pela via direta, ou os caminhos do Vale do Açungui para os Campos Gerais sem desviar por Castro ou Curitiba.

Porque a obsessão em estar próxima ao Rio? Pois queremos seguir o traçado natural da região. Rodovias, estradas e limites territoriais são invenções pautadas em política humana que pode ou não ter associação com as características do local. O interesse na rota é o interesse pelo Ribeira. O traçado humano somente se é conveniente enquanto ele auxiliar a ter uma maior imersão sobre o que vem a ser o Ribeira.

A expectativa é uma viagem geográfica, naturalística e cultural. Vamos começar pelo Baixo Vale, famosa por suas cavernas e natureza, e ao adentrar no Alto Vale iremos ter contato com os Mares de Morros e com um lugar isolados mas cheio de comunidades rurais fortes e vivas. A viagem finalizará nos Campos Gerais do Paraná, um lugar descrito por autores antigos como sendo de extraordinária beleza.

A rota para a viagem (link)

Dia 0: ir de ônibus para Registro

O Dia zero de rotina: arrumar bicicletas, ir a rodoviária, comer tapioca na rodoviária, botar sacos plásticos nas bicicletas para satisfazer os desejos burocráticos e disfuncionais da empresa de ônibus, embarcar, chegar na cidade e dormir em um hotel barato qualquer.

O que eu levei: rede de dormir e lona da Arlecchina, roupa de ciclismo do La (s) Magrelas / Maglia, roupa civil, segunda pele, cachecol, capa de chuva, kit de ferramentas, cadeado flexível, par de luzes, bateria grande, Binóculo, Tablet, Câmera e duas garrafas de água.

Onde levei: bolsa de quadro inteira do Afora, bolsa de guidão do Afora, bolsa de selim grande da Curtlo e duas bolsas de mesa do Afora.

O que esquecemos: Noção, Creme para Assaduras, Repelente, baterias CR2032, comida e chuvas

Preparativos antes do ônibus
Ônibus e hotel em Registro

Dia 1: Eldorado à Iporanga

É uma rota batida, então fica difícil descrever. Planura até Caverna do Diabo. Um subidão até lá para compensar o dia sem subidas, visitar a Caverna do Diabo (que parece um Museu da Caverna segundo a Viola), tirar fotos e ir pra Iporanga, que é uma cidade bem bonitinha e boas energias, tá até nos nos nomes dos estabelecimentos comerciais.

Depois da Caverna do Diabo, a Planura que é larga vai se estreitando e ao chegar em Iporanga já é nítido estar no meio de Vales Estreitos. Tem um encontro de águas particularmente belo na afluência do Rio Pedro com o Rio Ribeira, daria para ficar observando com binóculo por algum tempo lá.

(link)
Registro/SP
Registro e Eldorado
Caverna do Diabo
Saída da Caverna do Diabo
1, 2: Encontro das Águas do Rio Pedro com Ribeira. 3: Chegada em Iporanga
Estrada da Caverna do Diabo até Iporanga

Dia 2: PETAR e Apiaí

O plano original para este dia era visitar as cavernas e descansar em Iporanga, porém descobrimos no dia anterior que a rota original teria de ser modificada: a Balsa Auto-Guiada de Rio Pardo (ou Balsa das Andorinhas) que nos levaria de Iporanga para Itaóca foi levada embora pelas enchentes na semana anterior. Uma pena, pois era uma das expectativas da viagem.

Essa Balsa é peculiar por não ter barqueiro há anos: ela é auto-servida. Aparentemente foi construída de tal modo que a correnteza do rio auxilia na hora de ir ao outro lado. No caso da balsa estar na outra margem do rio, há uma canoa amarrada em uma corda que pode ser usada para atravessar o rio e levar a balsa do outro lado.

Por conta disso, optamos de encurtar a estadia em Iporanga e subir para Apíai, dado que a nossa visita ao PETAR já nos iria fazer subir um terço da serra para chegar até lá. Não foi o ideal, um dos desejos da viagem era de evitar estar no Planalto o máximo possível.

Neste dia e no último, foi bastante notório o quão a paisagem e a aura muda em uma distância tão curta aqui neste Vale. Em Eldorado, estávamos rodeados de quilombos e comunidades ribeirinhas. Em Iporanga, há uma fartura de good vibes e o jeitão raíz da USP. Em Apiaí, estávamos de volta ao Estado Bandeirante*. A expectativa agora é ver o que acontece ao chegar no Alto Vale, ou o Vale do Ribeira Paranaense.

*: Um amigo me pediu para elaborar sobre Apiaí ser a volta ao Estado Bandeirante. Há muitas formas de descrever e sentir. A arquitetura urbana e rural lá segue o padrão interiorano paulista. Muitos carros. Núcleos e Periferias. A comida. O padrão de uso de solo urbano e rural. Mas nenhuma dá melhor a dica além do fato de que houve um grande Surto De Progresso pautada no automóvel e no garimpo nas décadas anteriores. É de lá para se onde é conduzidas as pessoas de São Paulo para desbravarem o Alto Ribeira.

(link)
Foto da Balsa (link) e Rota modificada após o conhecimento do estado da Balsa para Itaóca (link)
Iporanga
PETAR
Arapongas e Cogumelo
Mirante no topo do parque
Rota do PETAR até Apiaí

Dia 3: Cerro Azul por Terra

A partir de agora, as rotas deixaram de serem batidas e passarão a serem relativamente pouco exploradas. Os locais que conversamos até então desconhecem a rota que montamos. Ninguém sabe desse trecho de Ribeira até Cerro Azul pela terra, e muito menos o que vem depois até Ponta Grossa.

Os mapas também começam a apresentar informações escassas e tudo busca conspirar a nós de buscar o atalho nas rodovias federais, mas vamos continuar o plano de seguir o Rio Ribeira.

A primeira metade do dia foi pelo Rastro da Serpente, rota tradicional de motoqueiros buscando vencer e contar as curvas. A segunda metade, de Ribeira até Cerro Azul, era desconhecida.

O que descobrimos foi possivelmente uma das melhores rotas para ciclismo de cascalho que já fizemos — um verdadeiro tesouro! A combinação de vales estreitos, planura, e cascalho fino sem ter pedras grandes fez um viagem muito prazerosa, até chegarmos na Comunidade da Rocha.

Por pouco ganhamos um almoço gratis de natal gentilmente oferecidos por uma família simples mas simpática. Recusamos pois o tempo estava curto e ainda havia chão e serra para subir. Sem contar o vegetarianismo. O povoado era muito simpático, cheio de casas simples e sustentáveis. Um misto de vila de pescador e pequenas chácaras.

Se perdemos um pouco após a Comunidade da Rocha pois a rota nos indicou um lugar que existe no mapa mas não existe na realidade. Pena, pois o começo dela seria belíssimo. Seria uma rota que passaria no meio da Dobra do local. Pedalamos um pouco mas rapidamente nos deparamos com portões de propriedade particular (o qual ignoramos e pulamos) seguidos de matagal que há décadas não é limpo (o qual nos fez rever a rota e ouvir os locais)

Após, tivemos de subir uma serra com altimetria de 600m, pois nesta região há dobras que tornam impassável qualquer rota que esteja rente ao rio. Quase nos desidratamos: não havia árvores nas encostas, e a direção do percurso estava alinhada com o sol de forma a não ter sombra, e a temperatura estava beirando os 37 graus.

A recompensa foi uma rota que passa pelos cumes da dobra: deu para entender claramente porque Cerro Azul leva esse nome: a silhueta da topologia com o branco-azulado do final da tarde foi especialmente marcante em nossa memória visual. Houve também uma surpresa: aparecer um caverna do nada ao nosso lado enquanto estavámos no cume linear. Até cogitamos entrar nela para ver se tinha água, mas era demais íngrime ao iluminá-la.

Ao iniciar a descida da dobra, estávamos efetivamente no Paraná: Terra Roxa e Minifundíos descapitalizados.

Adição em 05 janeiro 2023: Há 14 anos atrás houve uma expedição pelo projeto Brasil das Águas — um projeto para documentar a qualidade dos águas brasileiras em seu trajeto — neste trecho. A rota foi ir para Cerro Azul, ir até a confluência do Ribeirinha com o Açungui, que é o primeiro terço de amanhã, e depois seguir para Adrianópolis / Ribeira pela estrada da comunidade da Rocha, que foi o percurso de hoje, para então ir descendo o rio pelo trajeto padrão. É definitivamente divertido comparar o diário de campo para o dia 5/11, o qual foi realizado de Jeep, com este relato, realizado de bicicleta. Descobri que a região estava ameaçada com a construção da UHE Alto Tijuco. Que sofrência! Este dia foi bem na área que seria inundada. Um crime contra a humanidade. E a energia produzida sequer seria para proveito público: seria uma obra cujo produto seria completamente direcionada para o uso de uma única empresa privada. Fico muito satisfeito em ver que o projeto foi barrado. Bateu na trave.

(link)
Fotos de perfis em Ribeira / SP
Estrada até a comunidade do Rocha
Caverna no acesso entre Rocha e Cerro Azul
Chegando no Paraná: Terra Roxa
Cerros Azuis
De volta ao Rio Ribeira
Arquitetura de Cerro Azul / PR

Dia 4: Vale do Açungui

Este dia me era o mais aguardado da viagem. O Vale do Açungui é a região mais misteriosa do Vale do Ribeira: há uma ausência quase completa de referências e mapas sobre a região, e ele está bem no miolo do Alto Ribeira (ou Vale do Ribeira Paranaense).

Não há cidades no caminho, mas há uma abundância de pequenos povoados e comunidades rurais que se estendem longamente sobre as estradas rurais. Não há lojas e comércios especializados, o que há são empreendedores que vendem e fazem de tudo: sorveterias que fornecem prato-feito e hospedagem, bares que vendem ferramentas de construção e carreto, e por ai vai.

Os Vales Estreitos ficaram para trás em Cerro Azul, e deram origem ao Mar De Morros. A região lembra Cunha em silhueta, mas é uma experiência cultural completamente diferente. O solo é liso e macio, um paraíso para bicicletas! Não se passam caminhões aqui, mas sim carros e motos. O solo é rico em calcário branco e não há as pedras tão comuns nas estradas do Planalto.

Neste dia, o Rio Ribeira se ramificou em dois: o Ribeirinha e o Açungui. Optamos por continuar pelo Açungui pois este é o maior rio em termos de fluxo, e ele segue pelo miolo do Alto Ribeira.

Fomos hospedadas por uma família muito gentil que está envolvida com projetos educacionais na região para diminuir a evasão dos jovens para os grande centros. Houve uma troca de experiências e vivências muito rica. É bom estar de volta ao Sertão.

(link)
Cerro Azul de manhã
Estrada ao longo do Ribeira
Serra próxima da Vila São Sebastião
Mares de Morros
Chegando em Açungui
Chegando na fazenda dos anfitriões
Pôr do sol na casa de nossos anfitriões

Dia 5: Açungui à Campos Gerais

O dia "final" e mais duro da viagem. A rota original na verdade previa dormirmos no selvagem hoje com as redes, mas a perspectiva de chuvas causou uma mudança nos planos.

Como despedida do Alto Ribeira, decidimos por desviar do Rio Açungui e tirar um gosto do sertanejo interior: subimos a Serra do Sufoco, o qual está repleta de vistas especulares dos mares de morros desta região, e ao descermos passamos por uma comunidade rural de minifundios gigantesca. Permacultura na Prática. Gostaria de ter filmado mas não tenho registros. Só indo pedalar lá para poder ver.

Ao sair do Rio Açungui, começamos a sequência de serras. A primeira para poder sair do nível base de elevação de 300m (o nível do rio) para 700m (o nível dos morros), e as outras por conta de uma mistura pelo fato de estarmos surfando no topo do mar de morros e por estar subindo gradativamente ao Segundo Planalto Paranaense, que está situado a 1050m.

É marcante a mudança na atmosfera ao deixar o Açungui e adentrar o Planalto: Minifundios deixam de existir. Pequenas Chácaras familiares dão lugar a Grandes Chácaras. Cachorros começam a latir mais e ter tamanho maior. A terra de calcário dá origem para a terra escura e cheia de pedras do Planalto. Usos sustentáveis dão lugar a usos consumistas. Carros deixam de ser pequenos e pessoais para virarem Caminhonetes e Jeeps. Hamburguer Artesanal passa a ser encontrado em povoados pequenos. Bandeiras Nacionais passam a ser mais comuns.

(link)
Despedida do Rio Açungui
Paisagem no topo da Serra do Sufoco
Paisagens no Vale do Açungui
Rio Açungui
Despedida do Alto Ribeira
Power Nap
De volta ao Planalto
Escarpa Devoniana

Dia 6: Campos Gerais

O dia hoje foi de "descanso". Pousamos no Refúgio das Curucacas — um verdadeiro tesouro! Trata-se, comercialmente, de um misto de operadora de turismo ecológico e camping sustentável. Na prática, você dorme lá e ganha acesso a trilhas auto-guiadas. Ou paga para fazer as trilhas e atividades como se fosse uma operadora. Lá está praticamente colado ao Parque Nacional dos Campos Gerais.

Na prática, o Refúgio é um projeto de educação e conservação ambiental muito inspirador. o Guilherme que está lá é um verdadeiro naturalista: vem se dedicando há décadas de construir um lugar ecológico em todos os aspectos e para servir de inspiração para as pessoas que vem lá. Ele também entende muito da geologia local. É um desses ambientalistas brasileiros que deveria ser muito reconhecido e premiado se o sistema e população fossem mais justos e gentis.

Para você que está em São Paulo, considere seriamente passar um final de semana no Refúgio. Pegue uma passagem de ônibus na sexta a noite, chegue lá no sábado de manhã, e volte no domingo a noite. Vai sair mais barato que ir para a praia, e você irá aprender e curtir muito mais.

Sobre o Parque: muito já se falou dele por ai. Tem algumas fotos aqui. Ele se caracteriza pela presença das Furnas: desabamentos antigos que criam formações que lembram crateras. Crateras de Biosfera. Os penhascos criam câmaras de eco gigantes que lhe permitem ouvir tudo que está lá dentro. Não consigo pensar em maior código de trapaça para o WikiAves do que ir visitar lá e passar um tempo.

No meio da tarde fomos para Ponta Grossa. Tem uma Ciclovia que liga diretamente a cidade e o Refúgio pela rodovia, com direito para as vistas infinitas que os campos gerais oferecem. O céu nos deu uma apresentação gratuita neste dia.

Refúgio das Curucacas
Furna Grande
Furnas Gêmeas
Detalhe nas Furnas Gêmeas
Ciclovia do Parque Nacional dos Campos Gerais à Ponta Grossa
Pôr do Sol em Ponta Grossa

Dia 7: Buraco do Padre

A principio tiramos o dia só para bater ponto no Buraco do Padre e tinha tudo para ser um dia de cartão postal, mas felizmente o Ciclocomputador nos colocou numa rota completamente aleatória e sem sentido, o que salvou o dia.

Ao invés de irmos ao Parque Nacional pela Rodovia, o Roteamento do Ciclocomputador nos ordenou explicitamente que promovéssemos a Invasão de Propriedades Privadas ao longo do caminho. Teve lama, barranco caído, pedal no meio de campos de soja, pular cerca algumas vezes e ignorar avisos sobre entrar outras vezes, com direito a várias vistas de perspectiva infinita. Sobre a admissibilidade destes feitos, o que dá para dizer é que foram em segmentos bastante ativos no Strava. Se 1000 ciclistas de alta performance podem, nós também podemos.

Sobre Buraco do Padre: as fotos falam por si. Parque Privado, lá no site tem todo o material do marketing. Bom lugar pra ir com a familia. Vá primeiro no Refúgio dos Curucacas e se sobrar tempo ai vê as outras coisas.

Terminamos fazendo uma breve visita ao Estação Saudade, antiga estação ferroviária de Ponta Grossa com muita história por trás e que virou SESC. Rolou um baita estresse para embarcar as bicicletas na volta com a Expresso Nordeste (só pegamos porque a Catarinense esgotou). Nota: 1.5 de 10.

Já falei no post sobre levar bicicleta no ônibus. Mais vale pagar muito mais e ir de Catarinense / Cometa / 1001 do que qualquer outra. Pegue leito cama se for necessário. Evite estresse desnecessário e financiar empresa de ônibus que hostiliza ciclista.

(link)
Túnel
O que acontece ao entrar em terras proibidas
A perspectiva infinita dos Campos Gerais
Mais perspectivas campestres
Soja soja soja soja soja soja
Escarpa Devoniana
Buraco do Padre
Selfie
Fenda da Freira
Final
Museu da Saudade

Dia 8: De volta à São Paulo

Chegamos, nada a declarar

Córrego da Água Preta

O que vem agora: Bolsão Sul-Matogrossense?

Até meio de 2023 gostaria de conhecer essa região que me é um tanto misteriosa. Não por tanto, apelidamos ela de "Área 51", pois é um mistério: está nas beiras do Rio Paraná, possui topologia bem regular e está ao lado do Estado Mais Desenvolvido Do Brasil com excelente Infraestrutura Rodoviária e até mesmo Ferroviária (!!!). Para aumentar o mistério, experimente olhar no Google Maps e comparar a visualização padrão vs satélite. 95% dos nomes não existem. São distritos e vilas fictícias, sem nenhuma indicação de ocupação real no satélite.

Tente achar os povoados indicados no mapa. (link)

Apesar disso tudo, a densidade demográfica é menor do que a da Floresta Amazônica, e ao olhar o mapa de densidade de pessoas e atividades, é um verdadeiro buraco. Não há nada que indique porque se é tão vazio. Tem chuva, tem estradas, a fronteira agrícola tá longe, etc. O único argumento apontado até agora é o do latifundio, mas a presença deste não parece ter sido eficaz em evitar densidades em outros lugares como mais ao norte.

Diante do mistério, gostaria de ir a campo conhecer na pele o que existe nesta região. Há uma rota preliminar sendo planejada, consistindo de 906 km de pedal. Um BikingMan Sertanejo. Neste, haverá segmentos de 100km a 250km sem absolutamente nenhum povoado ou distrito no meio.

Quem sabe.

Área 51 em mapas. 1: topologia, 2: topologia e densidade de ciclistas, 3: topologia e densidade de pessoas

Agradecimentos

Caio Ribeiro, Danilo Vaz e Guto Carvalho por comentários no texto. Leila de Moura & Família pelo acolhimento e inspiração em Açungui. Viola Sellerino pela parceria geral no ato. Tom Bojarczuk pela parceria geral a distância.

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